2.5.21

 my life in art ou salvação através da escrita


em algum lugar da cidade

alguém se desespera

dentro de quartos mofados

quentes demais

esperando por uma salvação

que não virá nas colunas 

de política

na tv

eu peço mais do que salvação

quando em noites estranhas

dissolvo meu corpo e mente

em imagens falsas de abismos

dois remédios me acalmam

os abalos sísmicos 

os espelhos trocados

que deturpam e não conheço

quem eu vejo no agora

preciso de mais alguma coisa

as sentenças me encurralam

as ruas ainda cheias não dizem muito

mais do que já sei:

que o egoísmo destrói e acomoda

como eu mesma naquele ano cinza

colapso distante e perto

gosto de algo que se ganha e se perde

todos os dias do último ano 

foram de despedidas

e eu chorei em quase todos eles

(uma presença de solidão

um corte profundo

textos dos diários que nunca nascem por acaso

ainda estou viva).