3.1.24

talvez eu estivesse paralisada esperando o acaso outra vez para agir inconsequente ou proteger cada passo com a esperança de que algo haveria de se dar entrelaçar os dias que por enquanto continuavam secos árida e amarga eu te dizia sempre do rompimento entre nós quase estabelecido todas as vezes em que ira e fúria eram mais do que fazer teus almoços todos os dias cansaço de uma mente em chamas sem conseguir escrever sequer uma palavra agora escrevo mesmo invisível mesmo que não me leiam mais. vermelho ruína superfícies irregulares agora são caminhos rumo a: el fuego mata todo.

19.10.23

escondida chora com a certeza de não ser vista tudo passa e até um corpo se refaz.

17.9.23

de volta as caminhadas solitárias estou de novo em uma cidade desconhecida e com o coração em pedaços saudade que pulsa desenfreada evitaria o corte se me fosse possível ou teria o rosto esquivo para o que não me pertence tudo aqui não me lembra em nada o lugar de onde vim lá não existe mar mas sim rios caudalosos e longos em que confesso: a vontade do salto para o fim parecia mais chamativo mesmo assim aqui percorro o medo mais fino medo que a dor me jogue no chão outra vez ou que ela se personifique e venha acelerada com passos alvoroçados e me confronte outra vez aprender um caminho é acostumar o olhar costurar linhas secretas é ter medo um mapa de afetos se faz quando há vontade de ficar e o amor só me serve se for também força.

9.9.23

fantasmas aparecem em rotas que desconheço gosto de me perder em ruas que consigo olhar para dentro das casas espectadora atenta ou voyer à espreita espero pela aventura - a última casa aqui é a minha abro o portão e o grande jardim me engole outra vez casa toda mistério.

8.9.23

não é possível voltar quando você já foi longe demais estradas são difíceis de serem percorridas mas atravessar todos esses percalços parece mais fácil do que chegar até você sempre inalcançável.

19.8.21

tenho jogado as noites
as traças
as taças
que quebro
e tomo
vinho barato
mas há um
engasgo
que não passa
sabe quando
você não
aguenta mais?
esperar
que a situação
mude
e não muda
e nada mais
parece ir
pra frente
eu que tanto
desejei
o perigo
o risco
a rua
aprisionada
agora estou
sem saber
se volto.

2.5.21

 my life in art ou salvação através da escrita


em algum lugar da cidade

alguém se desespera

dentro de quartos mofados

quentes demais

esperando por uma salvação

que não virá nas colunas 

de política

na tv

eu peço mais do que salvação

quando em noites estranhas

dissolvo meu corpo e mente

em imagens falsas de abismos

dois remédios me acalmam

os abalos sísmicos 

os espelhos trocados

que deturpam e não conheço

quem eu vejo no agora

preciso de mais alguma coisa

as sentenças me encurralam

as ruas ainda cheias não dizem muito

mais do que já sei:

que o egoísmo destrói e acomoda

como eu mesma naquele ano cinza

colapso distante e perto

gosto de algo que se ganha e se perde

todos os dias do último ano 

foram de despedidas

e eu chorei em quase todos eles

(uma presença de solidão

um corte profundo

textos dos diários que nunca nascem por acaso

ainda estou viva).

19.8.20

mancho os cadernos de silêncio
todo vermelho vivo
dentro

grave, absolutamente.

28.1.20

chega a resposta instantânea em sua cabeça: eu não posso ficar sozinha.
mais uma noite seguida chorando até adormecer. dor funda das memórias recentes. dor funda na noite que atravessa sozinha, mais uma vez.
não há reconhecimento para o que me tornei, pensa. pensa muito.

29.1.19

finda a disposição
do amor
enfraquecido
inicia nova jornada.

26.1.19

sempre longe você chega de repente e quer restituir as bases de comunicação.
eu procuro em desespero o perto, peco, caio ao chão, nunca mais terei as mãos limpas,
automutilação.
as palavras simples escuto. coração em pânico no início, depois calma anestesiada.
você tinha o poder da minha fragmentação, agora entendo. poder que só poderia ser meu,
há vontade de gritar nesse momento de constatação.
um ser que se enxerga através de um outro ser, mas não há nenhuma possibilidade
quando não se fala, pronuncia, abre a boca e diz meu nome.
não há imagem, não há som, não há palavra. desaparecida, cedendo ao escuro.

não entende o que é simples. amo e pronuncio teu nome, imagem e som para tudo
e para todos. porque em mim é parte necessária, para ti é parte deixada de lado.
dor funda do esquecimento.

5.1.19

Espaços vazios. Fragilidade para quem fica,
falta para quem vai. Nada consome mais do
que essas inúmeras idas e vindas do trecho.
Partes o interior. Crava os pés incertos.
Já deixei de sentir minhas mãos ou esqueci.
Vida covardia. Vida desaparecendo.

Mais um táxi para as lembranças fundas de saudade.

27.12.18

mãos e olhos
pequenos e frágeis demais
desmistifica o dom
em qualquer um
é a vez de outros protagonismos
ansiedade em peso
quem você era?
quem eu era?
chega nesse mundo
e transforma
e eu amo você
mais do que poderia imaginar
inteira e gratuitamente
e a saudade que agora
sei exatamente o que
significa

cuidar
teodoro
sempre.

26.11.18

pecado durar tão pouco
na pele
dentro
sendo outro.

22.11.18

Vê tudo por uma tela suja
Os olhos embaçados alteram a paisagem
O cinza do céu se confunde com o dos prédios
Mature
Meus olhos são pássaros sempre a bater em vidros

13.11.18

o arcaico de implorar pelo teu nome ao menos sete vezes
antes que o choro venha
o bendito sinal de aventura e tristeza que se anuncia
cedo demais
a memória aguçada por fontes que denotam também
tudo o que vem e vai
a revolta de pedras pisadas e estraçalhadas nos pés
sempre distraídos.

uma cor nova aparece nesses dias: azul petrificado.

9.11.18

cumplicidade ao inverso
outro nome na minha boca

6.10.18

às vezes perdemos a hora
de uma só vez
fronte fraca da manhã
sonhos estreitos te dizem
o não classificado
depois
raio de luz que te toca
no canto do rosto amassado
e uma manhã que não volta.

13.9.18

estraga o caminho
funde abismo
e noite
cria caos
arrepende
volta pra não casa.

6.9.18

registro do dia:
a bondade dói.